quarta-feira, 4 de novembro de 2009

SER DIFERENTE?

"O que é isto de ser diferente? O que é que nos dias de hoje se entende por ser diferente? Qual o valor da máxima: “Todos diferentes todos iguais”?


Esta é uma reflexão necessária nos nossos dias e na sociedade em que vivemos! Estamos perante uma cultura de globalização, de massificação, mas que simultaneamente se pretende integradora/inclusiva de todos os indivíduos. Mas será que se tem conseguido isso? Não será esta uma “nova” questão com “velhas” raízes?

É neste sentido de tentativa de incluir, que se têm vindo a utilizar distintas terminologias em relação aqueles que não se enformam no global, sendo possível denotar uma certa evolução dessas mesmas nomenclaturas; ou senão vejamos: passamos de “deficiente”, para “pessoa deficiente”, e posteriormente, numa tentativa de separar essa parte distintiva surgiram vozes a clamar pela designação de “pessoa portadora de deficiência”, tal como se de uma parte móvel, passível de transporte se tratasse; e há também quem defenda a designação de “Pessoa diferente”; havendo ainda quem eleja a expressão “Pessoa com necessidades especiais” (Maria Beatriz Vicente, 2001, p. 270).

Toda esta panóplia de designações demonstra a controvérsia, o tumulto, a discórdia que ainda hoje impera no que concerne ao ser-se diferente perante os “iguais”. Mas não senti-mos já, todos nós, de uma maneira ou de outra a discriminação de ser diferente? Não fomos todos nós já confrontados com alguma forma de estigmatização, no decorrer do nosso percurso vital?
Raros são os que podem dizer que não!

De facto, Christian S. Crandall (2000, p. 126) refere-se ao estigma como tratando-se de um fenómeno muito comum, constatando que virtualmente todas as pessoas experimentam em algum momento das suas vidas, essa alienação, rejeição, embaraço, e a sensação de discriminação, que resulta de ser diferente em algum aspecto.


Também Erving Goffman (1988, p. 148) menciona que “...o estigma envolve não tanto um conjunto de indivíduos concretos que podem ser divididos em duas pilhas, a de estigmatizados e a de normais, quanto um processo social de dois papeis no qual cada indivíduo participa de ambos, pelo menos em algumas conexões e em algumas fases da vida.”


Deste modo, é preciso equacionar de uma forma profundamente diferente esta questão social do estranho, do especial, do que é diferente perante o que se considera normal.
Pensemos no filme ET: para a criança o extraterrestre era o diferente, mas e na perspectiva do extraterrestre? Não seria a criança?
Ou então, saindo da ficção, podemos recorrer à história sobre a qual versa o livro com o título “O Papalagui: discursos de tuiavii chefe de tribo de tiavéa nos mares do sul”, na qual se descreve a experiência do chefe de uma tribo indígena que viaja até à Europa, e ao contactar com a nossa cultura, acaba por ficar estupefacto perante a nossa diferença, que o faz indignar-se perante as coisas que para nós são tão básicas e simples, e que para ele e para a sua tribo, são tão esquisitas, tais como a roupa, que ele designa de panos e esteiras a cobrir as carnes; ou o dinheiro que ele designou de papel forte e metal redondo, entre outros. Como vemos, também ele encontrou algumas designações para o que é nosso, e se indignou perante a nossa diferença, tendo voltado para a sua tribo achando que éramos muito estranhos. E isto não será também verdade para aqueles que nós designamos de diferentes/especiais? E não terão este grupo formas de categorizar, e de estabelecer a diferença entre as várias diferenças?

Deste modo, a diferença, o estranho, é muito relativo, depende da perspectiva de cada um. E a tentativa de normalizar, e simultaneamente incluir, com leis e normas próprias, e designações diferentes, deixa-nos numa situação de liminalidade, em que nem se consegue a inclusão, nem se pode falar de uma total exclusão.


Bibliografia:

CRANDALL, Christian S. “Ideology and Lay Theories of Stigma: The Justification of Stigmatization”, In The Social Psycology of Stigma, ed. por Tood F. Heatherton, Robert E. Kleck, Michelle R. Hebl e Jay G. Hull, Nova Iorque: The Guilford Press, 2000, 126-152.
ISBN 1-57230-573-8.
GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. 4ª ed., Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1988. ISBN 85-216-1255-9.
VICENTE, Maria Beatriz. “O diferente como cidadão pertencente a uma minoria”, In Acção Social na Deficiência, Coord. por Cristina Louro, Lisboa: Universidade Aberta, 2001, 265-280. ISBN 972-679-341-9."\

http://assimetrias.blogs.iol.pt/20126/

1 comentário:

  1. Bruno gostei do texto que apresenta mas uma vez que o mesmo não é da sua autoria não é necessário indicar a bibliografia de forma tão destacada, é sim importante destacar a fonte.

    Seria interessante haver uma reflexão pessoal sobre as questões pertinentes que este texto aborda!

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